Gastando pouco no Japão: como planejar uma viagem barata
Antecedência, paciência e ser decidido são as chaves para ter uma experiência inesquecível e não torrar tanto dinheiro

Se organizar financeiramente para conhecer o Japão não é um bicho de sete cabeças e não custa tanto quanto você imagina. Um segredo que ninguém te conta: apesar de ter os aluguéis mais caros do mundo, Tóquio e as cidades do país reúnem centenas de opções baratas para quem tem pouca grana e só quer mochilar. É verdade e eu posso provar: em 2010, a primeira vez que fui pra lá, aos 23 anos e ganhando R$ 2.300 por mês, planejei a viagem com três semanas de antecedência com ZERO dinheiro guardado. Por conta dos planos acelerados, caímos em várias roubadas, mas também aprendemos um monte de coisa com os perrengues e aproveitamos demais gastando pouco!
Não vou ser hipócrita: sei que muita coisa mudou com a desvalorização do real, especialmente pós-pandemia, mas o Japão é um país quase sem inflação. Isso significa que 200 yen em 2021 compram quase a mesma coisa que compravam em 2010, o que faz com que meus aprendizados da experiência ainda sejam válidos. Então, se quiser saber como ir pro Japão com pouca grana, dê uma chance pra esse guia!

1. Dois anos ou mais é o ideal para planejar uma viagem
Seja com muita ou pouca grana, não faça como eu e viaje na loucura. Planejar-se é sempre bom e se seu orçamento é muito baixo, esse é o tempo ideal para que você realmente encontre opções baratas e não lide com nenhuma surpresa durante seu tempo no Japão. Em 2010, agi por impulso junto com o Andre, aqui do blog, e resolvemos ir na loucura, já que ele ia entrar num emprego novo e não teríamos muito tempo mais para realizar nossos sonhos juntos.
Ao todo, ficamos 12 dias no Japão (sem contar os dois dias para ida e volta) e visitamos Tóquio, Hiroshima, Nara, Osaka e Quioto. Foi possível fazer muita coisa, mas também passamos muita vontade, especialmente na hora de comer e comprar aquelas bugigangas de anime, mangá e games que tanto queríamos. Já em 2018, com dois anos de antecedência, conseguimos não só levar uma grana substancialmente maior, como também realizar muitas vontades. Isso pode ser mais verdade para alguns do que para outros, mas o ponto é que com mais tempo, você encontra não só as melhores opções de passagens, hotéis e restaurantes, como também pode juntar mais dinheiro tendo um foco e até uma data.
Para isso, marque AGORA o mês que você gostaria de ir daqui dois anos ou até três, quatro anos. Vá com calma. E comece o planejamento com base nas coisas que eu vou te dizer.
2. Comece ativando alertas de passagens aéreas
Especialmente em tempos de pandemia, preços de passagens podem flutuar MUITO. Elas variam com a demanda e época do ano. O que ninguém te conta é que um dia elas estão custando R$ 7.000 e no outro R$ 3.500. Hoje, o Google tem o serviço Google Flights, que todo dia te avisa das variações de preço das passagens aéreas por e-mail. Vale também, se você tiver paciência, eleger umas 3 ou 4 cias aéreas que fazem Brasil – Japão e se inscrever nas newsletters delas, além de simular os preços.
Mas quanto eu vou pagar? Um preço realista de passagem para o Japão na classe econômica promocional gira em torno de R$ 4.000 se você monitorar direito. Foi exatamente o que eu paguei tanto em 2010 (abril) quanto em 2018 (agosto). Dá para pagar menos do que isso, mas normalmente esses voos são cheios de conexões ou escalas intermináveis. Lembre-se que a viagem é cansativa. Economizar demais sai caro e você pode chegar exausto no Japão, o que vai diminuir muito a qualidade da sua viagem.
Normalmente as cias aéreas abrem as vendas de passagens onze meses antes. É a hora que você tem que ficar de olho. E, se tiver datas flexíveis, melhor ainda: vira e mexe rolam liquidações de passagens com datas pré-definidas, ou seja, esse é o melhor jeito pra acabar gastando pouco.
3. O que você gostaria de conhecer?
Além de definir o mês de preferência, tente descobrir as coisas que você quer mesmo ver e conhecer no Japão. Seu sonho é subir o Monte Fuji? Veja no site quanto custa e qual época do ano ele está aberto. Quer ir ao parque da Universal, em Osaka? Acompanhe diariamente o site deles, já que sempre surgem promoções. Ou os deals de black friday e de agências, que também servem pro Japão.
Se seu tipo é mais realista e ansioso, como eu, simplesmente veja o preço padrão do tíquete e guarde essa quantia no seu cofrinho ao longo dos dois anos+ que você tem para o planejamento. Seu negócio é templo e religião? A maior parte deles é de graça! Gosta de animes e mangás? Um rolê gastando pouco em Harajuku e Akihabara vai saciar sua vontade e não ferrar o seu bolso.
Com esses desejos em uma lista, pesquise em que cidades ou bairros você encontra essas atrações. Daí você vai saber quais locais visitar e a melhor época. Dependendo, se seu roteiro não for muito específico, ele pode se limitar apenas a Tóquio, o que será muito bom para a sua carteira.

4. Considere ficar em apenas uma cidade
Se a sua grana é curta, considere ficar apenas por Tóquio, que reúne um pouco de tudo e tem cidades e distritos adjacentes que podem ser acessados por uma tarifa comum de metrô/trem, além de opções mega baratas de hospedagem e alimentação (falo um pouco disso mais pra frente).
5. JR Rail Pass para quem quer viajar pelo país é item obrigatório de economia
Se você quiser mochilar pelo país, minha dica valiosa é comprar um JR Rail Pass, um passe para turistas que só pode ser adquirido fora do Japão e que pode ser usado em qualquer trem comum e em alguns trens balas da empresa JR (a maior, que cobre o país todo). Com ele, você faz viagens ilimitadas dentro de um período de sete, 14 ou 21 dias. O custo varia entre R$ 1.600 (7 dias) e R$ 3.200 (21 dias) (cotações atuais), mas será um item valioso para você conhecer todo local possível e imaginável gastando pouco – às vezes dá pra visitar três, quatro cidades em um único dia.
Talvez essa seja a maior grana que você precisará guardar além da passagem aérea. Mas é uma aquisição que vale MUITO a pena! Caso essa quantia seja muito além da sua realidade, considere a dica 4.
6. Confie nos reviews dos sites
O Japão tem um dos mais rigorosos controles sanitários do mundo e isso é uma vantagem para quem quer pagar barato em um hotel no país. Especialmente em Tóquio, há vastas opções de albergues e hotéis bem low budget. E o melhor: com tanta fiscalização, as hospedagens podem até parecer velhas, mas certamente serão limpas. Na dúvida? Confie nos reviews do Trip Advisor e dos sites de reservas. Eu costumo acreditar nos que tem 3 estrelas pra cima quando se trata de Japão. Leia bastante as críticas. Muitas são infundadas.
Mas tenha em mente que pagando 100 reais ou menos numa diária – ou até dividindo quarto com um desconhecido num albergue -, suas acomodações não serão de luxo e pode ser que a pintura do quarto esteja ultrapassada, que você veja alguns móveis antigos, que a louça do banheiro esteja velha. Isso nem de longe define uma experiência ruim e vai depender exclusivamente do seu padrão.
Um pouco de experiência: na nossa primeira vez no Japão, só ficamos em hotéis BEM baratos. Em doze dias, gastamos um total de R$ 1800 reais cada um em hospedagens na cotação 2020 (ou, 37.500 yens). Na época, com o real mais forte, nosso budget foi de R$ 900. Parece surreal, não é? De todos os hotéis e albergues que pegamos (quem quiser os nomes posso mandar via e-mail), só tivemos uma experiência ruim, em Osaka.

O hotel/albergue em Nishinari estava localizado atrás de um restaurante cuja cozinha ficava na nossa janela e o quarto tinha um cheiro TERRÍVEL de ovo. Sem contar que a pia enferrujada e mofada era colada na cama e, bem, alguém não estava seguindo exatamente os padrões sanitários japoneses… Na época, não lemos os reviews e, como fomos constatar depois, muitos eram bem ruins. Sorte que foram apenas três noites. Portanto, tenha isso em mente: dá pra ficar em locais decentes, mas leia as opiniões de quem tem a mesma realidade que a sua antes de só sair gastando pouco. Combinados?
DICA AMIGA: Tem um pouco mais de budget, mas não tanto assim, e quer ficar mais confortável? Procure os hotéis da rede APA e suas concorrentes. Eles são ótimos, pequenininhos, mas super limpos, com cara de novo e várias facilidades, como área de lavanderia, ofurô, máquinas de comida pra larica da madrugada… As camas são super confortáveis e todo dia tem limpeza que deixa seu quarto cheirosinho. As diárias giram em torno de R$ 180 a R$ 400, dependendo do bairro que você pegar. Recomendo.
7. Nas grandes metrópoles, qualquer lugar é lugar
Uma coisa boa sobre cidades cuja malha ferroviária é invejável: dá pra ir pra qualquer lugar rapidamente de metrô ou trem e até ônibus. Essa é uma vantagem de cidades tão bem geridas como Tóquio, Quioto e Osaka. Neste sentido, mesmo que sua hospedagem seja um pouco mais afastada do centro, não se preocupe: você vai chegar facilmente ao seu destino sem muitas preocupações porque certamente haverá estações ou pontos de transporte público perto de você. Então, se você encontrar um hotel muito bom e baratinho um pouco mais afastado, com boas reviews, agarre a oportunidade. Muitas vezes a receita para uma economia gritante está só a 10 estações de distância.
8. Dá pra comer muito barato
Se você planejar essa viagem com dois anos ou mais, você também terá tempo para aumentar progressivamente sua tolerância a alimentos diferentes. No Japão, isso é uma regra valiosa: poucos estabelecimentos vão servir a carne vermelha, o ovo frito e a saladinha que estamos acostumados.
Os restaurantes populares do Japão são especializados em lámen, dons (normalmente uma carne de porco ou frango adocicada por cima do gohan), udons (um tipo de macarrão), empanados, raízes e vegetais temperados (repolho e outros legumes, na maioria, e não o alface com tomatinho e azeite). Com sorte, você encontra um arroz com peixe cru com preço bom. Sushi é comum, mas, infelizmente, não chega a ser barato (embora a gente traga algumas dicas de onde encontrar alguns restaurantes bem bons e de baixo custo neste site).
Em redes como Matsuya, Sukiya e Yoshinoya você encontra pratos de 380 yen (R$ 20). Já com R$ 40 ou 50, dá pra comer BEM decente e sair bastante satisfeito. Outra dica é abusar das kombinis, as lojas de conveniência japonesa que funcionam 24 horas e estão em literalmente todo lugar. Os bentôs (marmitas) são baratinhos e vão ficando mais baratos no fim do dia, especialmente se tiverem alimentos frescos na composição.

EXEMPLO PRÁTICO: Na minha última ida ao país, em 2018, meu prato mais caro, um banquete de peixe, arroz, tofus, sopas e saladinhas, num lugar incrível em Quioto, suspenso acima de um rio, uma ostentação, custou 5.200 yen (259 reais) – e nem estava tão maravilhoso. Já o mais barato foi 290 yen (R$ 14), um udon bem gostosinho, em Akihabara.
9. O prazer está nas pequenas coisas
Seja sozinho ou acompanhado, a graça de viajar ao Japão é estar no país. Viver aquelas coisas, a rotina dos japoneses, presenciar os encantos de uma cultura tão diferente. Passear nas ruas, se fascinar pela beleza dos neons, dos arranha-céus e do silêncio ensurdecedor das ruas movimentadas. O Japão é fascinante, é lindo e admirá-lo é de graça. Mesmo que você não tenha grana pra comprar o souvenir x ou y ou experimentar um restaurante diferentão, apenas andar pelas cidades e parques é uma experiência inestimável que já vai valer muito sua viagem e lhe render momentos incríveis.
Portanto, não tenha medo: há um Japão incrível à sua espera que pode caber no seu bolso. E ele sempre estará aberto pra que a gente realize nossos sonhos de viagem!
